Janeiro Branco
21/01/2025Início do ano letivo acarreta gastos extras para as famílias, e mercado de
material escolar já movimenta 50 bilhões de reais
Por Carlos Fernandes, do Ongrace
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Enquanto o verão avança e as férias vão chegando ao fim, milhões de famílias já se preparam para enfrentar os gastos com material escolar. Pois é, a volta da garotada às aulas está logo ali, e essas despesas já tiram o sono de muita gente. Não é para menos — as famílias brasileiras gastaram cerca de R$ 50 bilhões nesse mercado no ano passado. Com a inflação beirando os 5% e fatores sazonais, como alta do dólar, que turbinam os preços, os responsáveis pelos alunos já consultam o saldo bancário antes de comprar o uniforme.
A pesquisa inédita do Instituto Locomotiva e QuestionPro que calculou a cifra também aponta que essas aquisições comprometem parte do orçamento de 85% das famílias brasileiras com filhos em idade escolar. Portanto, não é sem razão que um a cada três compradores pretende parcelar os gastos. Além de todo o material impresso, há uniformes, itens de papelaria, mochilas ou lancheiras, tablets, softwares para uso de plataformas digitais etc. Segundo João Paulo Cunha, o diretor do instituto que fez o estudo, esse tipo de gasto vem crescendo. “Aumenta também seu peso no orçamento das famílias”, aponta.
A gestora pública Claudia Santos de Oliveira Modesto sente o efeito disso em relação aos estudos de seu filho, Samuel: “O gasto com material escolar representa, hoje, cerca de 10% de nossa renda”, salienta ela. O adolescente, de 13 anos, é aluno do sétimo ano do Ensino Fundamental em uma escola particular, e Claudia diz que até consegue aproveitar parte do material, como uniformes, para o ano seguinte. Porém, em muitos casos, a única saída é comprar tudo de novo a cada janeiro: “O que onera, mesmo, são os livros escolares.”
O engenheiro Charles Lourenço Araújo, 40 anos, também vive no Rio de Janeiro. Ele e a esposa, Tecia Thereza, já desembolsaram quatro mil reais para matrícula e material de uso escolar dos filhos — Davi, de nove anos; e Isabela, de cinco — em 2025. “Tenho certeza de que boa parte desse material não será usada integralmente, podendo inclusive ser aproveitada para beneficiar outras crianças em situações futuras”, comenta. Charles é outro que percebe o reflexo significativo dessas despesas no orçamento doméstico, especialmente ao final de cada período letivo. “Considero esse impacto abusivo.”
De acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (ABFIAE), o aumento dos custos do material escolar para 2025 deve ficar entre 5% e 9%. Como era de se esperar, os efeitos dessa alta afetam mais quem ganha menos. Noventa e cinco por cento das famílias da classe C, com renda entre quatro e dez salários-mínimos, disseram que os gastos com a educação dos filhos tem valor considerável e que é preciso cortar outras despesas para supri-los.
Seja como for, e já que a preparação dos filhos é uma prioridade para as famílias, há maneiras de se gastar menos com material escolar:
Priorize itens essenciais — Cadernos, livros e material de desenho são indispensáveis, mas artigos meramente decorativos ou de marca podem ser substituídos por outros mais em conta sem qualquer prejuízo no aprendizado.
Não compre tudo de uma vez — Alguns materiais podem ser adquiridos ao longo do ano letivo, com preços mais baixos. Com demanda menor, muitas lojas oferecem promoções ou queimas de estoque.
Pesquise preços — Antiga fórmula da economia, a procura pelo produto mais barato em diversos estabelecimentos ou pela internet sempre dá resultado.
Compre no atacado — Grande parte do comércio oferece descontos para produtos comprados em quantidade. Grupos de pais e responsáveis organizados conseguem adquirir material mais em conta.
Fique de olho nos usados — Com o aumento expressivo do e-commerce, muito material usado e em bom estado, sobretudo livros didáticos, são oferecidos por verdadeiras pechinchas.