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Enquanto grande parte do foco global se concentra nos conflitos entre Ucrânia e Rússia ou entre Israel e Irã – que atraem o interesse das grandes potências por seus reflexos na economia e na geopolítica –, outra crise provoca uma tragédia humanitária de enormes proporções no Sudão. A luta interna na nação do centro-norte da África, de maioria muçulmana, que acontece em função da Guerra Civil iniciada há dois anos no país, já causou a morte de 150 mil pessoas e deixou 9 milhões de deslocados. Entre eles, estão os cristãos, que sofrem perseguição religiosa.
O terceiro maior país do continente africano, com área pouco maior que o estado do Amazonas e 50 milhões de habitantes, atravessa uma disputa sangrenta pelo poder entre dois generais, o líder militar Abdel Fattah al-Burhan, presidente do Conselho Soberano do Sudão, e o comandante rebelde Mohamed Hamdan Dagalo, que controla as chamadas Forças de Apoio Rápido (RSF, a sigla em inglês). Aliados no golpe de Estado de 2021, o qual interrompeu a frágil transição democrática iniciada dois anos antes, Dagalo e al-Burhan lutam desde 2023 pelo comando do Sudão.
Nesse fogo cruzado, a população civil é a maior vítima. Além dos combates e da crise política, a estagnação econômica, as epidemias e os conflitos étnicos afetam a sociedade local. Grande parte dos sudaneses enfrenta insegurança alimentar severa. “É a maior crise de fome no mundo atual. E as coisas parecem destinadas a piorar ainda mais para os civis”, avalia Kholood Khair, analista político sudanês e coordenador do grupo Confluence Advisory.
A briga interna é também um teste de fé e resistência para os cristãos. Fontes eclesiásticas locais afirmam que, antes do embate entre os generais, o cristianismo era tolerado: os crentes em Jesus não podiam pregar abertamente, mas o trabalho de assistência social, realizado em escolas e hospitais, era permitido.
Alia (nome fictício), uma cristã sudanesa que vive em um campo de refugiados, resumiu, em depoimento à Missão Portas Abertas, o drama vivido pelos seguidores de Cristo naquela conturbada nação africana. “Há muitas doenças aqui. Ficamos doentes e precisamos de remédios para curar a nós e aos nossos filhos. Temos muitos desafios e oramos para que Deus ouça nosso clamor e veja nossas lágrimas em meio a essa situação de guerra.”
Dados de 2020 do Pew Research Center, instituição especializada em estudos demográficos e religiosos, apontam que 91% da população sudanesa é muçulmana e apenas 5,4% seguem o cristianismo. O Conselho de Igrejas do Sudão contabiliza a presença de 36 denominações cristãs, concentradas principalmente na capital, Cartum, e nas cidades de Porto Sudão, Kassala, Gedaref, El Obeid e El Fasher.
De acordo com a Missão Portas Abertas, os seguidores de Jesus que vivem em localidades do interior sudanês estão mais expostos à intolerância e à violência. O Sudão ocupa o quinto lugar no ranking dos países onde há menos liberdade religiosa, estabelecendo-se como um dos locais mais perigosos para os cristãos. O risco, porém, é ainda maior para ex-seguidores do islã convertidos ao Evangelho porque a mudança de religião é proibida por lá.