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Em torno de 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham. A informação consta do último relatório Education at a Glance(Educação em resumo, em tradução livre), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Com um em cada quatro jovens sem ocupação, o Brasil está no quarto lugar nesse indicador e apresenta índice bem mais elevado do que a média observada nos países-membros do órgão, na faixa de 14%.
O documento, divulgado no dia 9 de setembro de 2025, considera as análises sobre a situação do Ensino Superior e do emprego em 38 nações, incluindo países que não fazem parte do grupo – caso do Brasil, que é parceiro da OCDE e candidato a integrá-la. Segundo o trabalho, a falta de estudo é um dos principais fatores que dificultam uma inclusão efetiva no mercado profissional. No Brasil, 64% dos jovens sem Ensino Médio ou preparo em nível técnico estão empregados, enquanto aqueles que possuem determinada qualificação para a mesma função chegam a 75%.
Essa etapa da vida é considerada um período de transição, no qual se espera que o jovem, caso ainda não trabalhe, esteja cursando formação profissionalizante ou uma graduação. Contudo, devido a dificuldades financeiras na família, muitos abandonam os bancos escolares para exercer atividade remunerada, o que compromete o desenvolvimento profissional e pessoal. A realidade, depois disso, não é promissora: o rendimento dos jovens com nível de instrução superior chega ao dobro do salário dos menos escolarizados, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas.
“Quem tem baixa escolaridade encontra enorme dificuldade de inserção no mercado de trabalho, que, cada vez mais, exige um estudo refinado e tecnológico para lidar com as profissões novas”, aponta a Profª. Lucienne Lara Morcillo, coordenadora de Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Jovens nessa situação têm sua autoestima abalada e ficam desmotivos para retomar os estudos ou buscar melhores oportunidades.”

A educadora lembra que, nos últimos anos, houve avanços na oferta de cursos, como os oferecidos pela rede de Institutos Federais (IFs) e programas de formação técnica – fato que colaborou para a redução dos chamados “nem-nem”, que chegavam a quase 30% dos jovens naquela faixa etária em 2016. “No entanto, a formação técnica é vista como menos prestigiada do que a formação universitária, o que reduz a atratividade para muitos jovens”, afirma Lucienne.
Outra conclusão do relatório da OCDE é que o Brasil está entre os cinco países que utilizam apenas exames acadêmicos para ingresso nas universidades públicas — algo que, na opinião de Lucienne, é um erro. Para ela, melhor seria a adoção de um modelo que combinasse a avaliação mediante critérios objetivos, como as tradicionais provas, com outros elementos, como o histórico escolar do aluno, para aferir seu desempenho contínuo ao longo do Ensino Médio. “A análise de perfil e habilidades socioemocionais, por outro lado, poderia avaliar competências, como liderança, resiliência e capacidade de trabalhar em equipe.”
Na visão da professora, a valorização de experiências práticas e comunitárias também colaboraria para democratizar o acesso ao Ensino Superior e formar profissionais mais preparados para a realidade do trabalho no século 21. “No Brasil, algumas universidades aceitam estudantes que receberam medalhas em competições, como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Trabalhos voluntários, projetos científicos, atividades culturais e iniciativas empreendedoras poderiam igualmente ser considerados”, defende a docente.