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Na prevenção ao suicídio, a fé tem ação cada vez mais reconhecida na reabilitação emocional e mental
Por Carlos Fernandes, do Ongrace
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A campanha Setembro Amarelo, iniciada há dez anos pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio, tem alcançado cada vez mais visibilidade na sociedade brasileira. Nesse mês, diversas ações educativas e de conscientização sobre o valor da vida são realizadas em escolas, empresas e instituições públicas e não governamentais. O foco sempre é na saúde mental e no estímulo a que qualquer pessoa que se sinta vulnerável nesse sentido encontre apoio. É uma urgência – no Brasil, as estatísticas de mortes provocadas pela própria vítima têm aumentado desde 2010. É o que revela o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2022. Naquele ano, 16,3 mil suicídios foram registrados no país, uma elevação de quase 12% em relação a 2021, quando os efeitos da pandemia da covid-19 abalaram a sanidade de muitos. Isso equivale a dizer que 44 pessoas tiram a própria vida por dia no Brasil, o que leva o país ao oitavo lugar mundial nesse ranking.
Razões para o ato extremo são várias e, quase todas, interconectadas, o que impede uma análise genérica. Cada suicida em potencial tem sua própria história, visão de mundo e realidade. Todavia, é consenso que boas redes de suporte emocional e de relacionamentos, além, é claro, de tratamentos específicos nas áreas de Psicologia e Psiquiatria são o caminho a percorrer. Nos últimos anos, o valor da fé nesse processo tem sido reconhecido. Afinal, o Evangelho de Cristo tem o poder para transformar o ser humano na plenitude de suas necessidades. “O papel da Igreja é mostrar que, em Jesus, há cura para todo tipo de doença emocional, principalmente por meio do perdão, do amor e da comunhão”, aponta o Pr. Douglas Givair Silva Borges. Ele tem dedicado parte importante de seu ministério na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) a movimentos de valorização da vida por meio do Projeto Feliz, iniciativa que promove encontros e palestras para grupos variados com foco na juventude.
Envolvido com o tema há mais de 15 anos, Douglas, que também é cantor e jornalista, faz da fé e da comunicação assertiva ferramentas para auxiliar as pessoas. “É uma iniciativa científica e pedagógica e também com um viés espiritual. Sou evangélico e eu uso a Bíblia como base em muitos assuntos dentro das palestras”, assegura Douglas.
Entre os objetivos gerais do Projeto Feliz, estão informar, divulgar, sensibilizar, mobilizar e convocar toda a comunidade escolar e a sociedade para participar do combate ao suicídio de crianças e adolescentes, a fim de coibir tais práticas, por meio de conscientização do aluno sobre a valorização da vida. E isso começa na infância e na fase de socialização. Porém, há pessoas que, mesmo tendo um lar estável e com boa estrutura, enfrentam dramas emocionais. Foi o que aconteceu com a maquiadora Caroline Reis Silva de Sousa, de Salvador (BA). “Eu tinha muitos amigos, mas sentia um vazio imenso”, conta ela, que tem 29 anos. “Eu era muito alegre, mas, quando ficava sozinha, não conseguia parar de chorar. Era uma tristeza indescritível.” As ideações suicidas – quando a pessoa, embora no íntimo rejeite a ideia, começa a cogitar o ato como solução – assaltavam-na de vez em quando. “Era um estado inédito para mim.”
Isso aconteceu por volta de 2014. Carol destaca que sua família não sabia de nada. “Embora fôssemos próximos, eu não conseguia me abrir em relação àquele sentimento.” A jovem reconhece que a situação estava saindo de seu controle: “Comecei a ter alguns pensamentos suicidas para interromper aquela sensação”. Próximo ao lugar em que morava, havia um templo da Igreja da Graça, e ela começou a frequentá-lo. “Ali, era o único lugar em que eu estava sozinha, mas não ficava mal. Ainda assim, quando eu voltava para casa, aquele estado ruim retornava.” Ela conta que começou a receber suporte e orações, o que aliviava seus sentimentos. “Para não ficar em casa sozinha, eu ia à Igreja pela manhã e à noite, no domingo, e estava presente em quase todos os cultos da semana.”
Carol recebeu Jesus como Salvador, mas, ainda assim, os maus pensamentos teimavam em voltar. “As minhas lideranças intensificaram a ação, orando por telefone, estando perto”, recorda-se. A jovem considera que essa experiência foi um processo. “Naquele tempo, esse assunto era pouco abordado, e acho que isso contribuiu para que eu não procurasse ajuda desde o início”, admite. Hoje, sua vida é totalmente diferente. Envolvida com as atividades da Igreja da Graça em Salvador, Carol tem uma rotina ativa, tanto no aspecto espiritual como no pessoal e profissional. “Vejo o mover de Deus realmente. Uma das grandes marcas da minha personalidade é a alegria – eu me sinto completa em Cristo!”, exulta.
“Papel importantíssimo”
Na atualidade, não faltam causas para estados emocionais depressivos capazes de levar uma pessoa à morte. É o que diz a psicóloga clínica Maria Rosângela dos Anjos Moraes: “Acredito que a maneira como vivemos, em uma sociedade cada vez mais exigente, cobrando maior desempenho – principalmente para os homens –, tem adoecido muitas pessoas. Os cristãos não são imunes a doenças emocionais. Com base na minha experiência, posso dizer que eles também têm sido assediados por ideações suicidas”. Membro da Igreja da Graça, ela está se mudando para Rio das Ostras (RJ), onde dará continuidade ao seu exercício profissional e se ligará ao templo local do ministério. “Esse quadro é uma condição complexa e delicada, que requer atenção especializada e compreensão profunda e interdisciplinar.”
Para a psicóloga, além do atendimento profissional, a pessoa que sofre devido a esse tipo de problema encontra na comunidade da fé um acolhimento que, em outros contextos, pode não ter acesso. “A Igreja tem, sim, um papel importantíssimo. Ali, ela encontra apoio e recebe uma Palavra de restauração. Acredito que a ajuda pastoral aliada à profissional são fundamentais para o processo de cura. Costumo dizer que a depressão é doença da alma, e nada melhor do que buscar em Deus, na igreja, auxílio para a cura.” Esse foi o caminho percorrido pela hoje Pra. Maria Aparecida Branquini Villar, de Sorocaba (SP). Sua trajetória até a libertação foi longa e tortuosa. “Desde criança, minha mãe me amaldiçoava com palavras terríveis”, afirma. “Cresci acreditando que vim a este mundo para atrapalhar as pessoas.” Na adolescência, ela queria se matar, mas faltava-lhe coragem para consumar o ato.
A situação piorou quando Maria Aparecida se envolveu em um relacionamento tóxico. Dessa união, teve duas filhas. Os danos emocionais gerados em sua infância e juventude cobraram um preço alto: “Eu andava como louca pela rua e recorria à autoflagelação”. Para evitar que ela se matasse, foi providenciada uma internação psiquiátrica. “Fui medicada com remédios fortes, mas não faziam o efeito esperado. Eu já não aceitava a medicação. Cheguei a ficar dias sem comer ou dormir.” Embora fosse uma vítima, Maria Aparecida não se perdoava. “Eu sentia muita culpa”, reconhece. Contudo, em uma de suas interações, o médico sugeriu que ela ajudasse outros pacientes em estado pior que o seu. Nessa atividade – em que auxiliava até outras pessoas a se alimentar –, ela começou a sentir que tinha utilidade.
Na época, há cerca de 20 anos, passou a ir aos cultos na Igreja da Graça. “Eu estava começando a conhecer Jesus, mas manifestava muita opressão maligna”, lembra-se. Afinal, os espíritos imundos podem se aproveitar de debilidades mentais e psíquicas para aprisionar alguém. “Na Igreja, compreendi o significado da passagem do evangelho de João, de que a Verdade liberta.” Os pensamentos suicidas desapareceram, e veio uma vontade forte de viver e de servir ao Senhor. Aparecida teve alta psiquiátrica e, tempos depois, conheceu seu atual marido, com quem tem dois filhos. “Agora, sou mãe de quatro e estou para ser vovó”, alegra-se. “Deus é maravilhoso, Ele nos restaura e nos dá novos valores.” Após muitos anos como obreira, ela foi consagrada ao ministério. “O Senhor me deu grande amor pelas almas, e, hoje, faço Sua obra com grande alegria.”