
Fé e universidade: tensões e desafios
09/07/2025Por Carlos Fernandes, do Ongrace

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Lapsos de memória são normais em qualquer idade. Normalmente, eles têm a ver com situações de agitação, estresse ou simples distração. Quem, por exemplo, nunca chegou ao carro e, só ali, percebeu que deixou as chaves na estante de casa? Ou precisou pedir desculpas aos colegas por ter se esquecido do encontro marcado e confirmado dias antes? Em geral, tais situações não representam qualquer sintoma de problema médico ou psíquico. Contudo, com o passar dos anos, o corpo sofre transformações naturais que afetam também a cognição, dificultando as lembranças. É o caso das síndromes demenciais, provocadas pelo envelhecimento do sistema nervoso central e por patologias, como o mal de Alzheimer ou de Parkinson. No entanto, nem sempre esse processo é irreversível. Especialistas em Neurociências têm apostado em pequenas práticas e disciplinas que não só avaliam a saúde mental do indivíduo, mas também servem como “exercícios” para a memória.
Ser capaz de recordar detalhes que faziam parte da própria vida em décadas anteriores pode não ser apenas uma experiência de nostalgia; e sim um sinal claro de que a mente ainda está funcionando corretamente. Afinal, a higidez intelectual não depende somente de fatores genéticos e pode ser ativada em qualquer fase da vida, segundo especialistas. “Há uma tendência a equiparar o envelhecimento ao declínio da função mental”, declara Molly Wagster, Ph.D., chefe do Departamento de Neurociência Comportamental do Instituto Nacional do Envelhecimento, dos Estados Unidos. Entretanto, essa não é uma regra inflexível.
A chamada neuroplasticidade – capacidade de as células nervosas formarem novas conexões ao longo da vida – pode ser estimulada, por exemplo, por meio de testes de memória. “O que acontece com a estimulação do cérebro é que, com o passar do tempo, algumas conexões se fortalecem, e determinadas áreas da arquitetura cerebral acabam se modificando à medida que vamos utilizando-as”, explica o médico e professor Octávio Pontes Neto, chefe do Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
A boa notícia é que esse estímulo não depende de terapias demoradas ou medicamentos caros e pode ser feita individualmente. Um simples e divertido teste pode revelar, a pessoas com 60 anos de idade ou mais, suas condições de saúde mental: manter sequências de números na memória, como seu antigo número de telefone, mostra que suas conexões neurais estão em boa forma; uma memória capaz de associar nomes aos rostos de pessoas com quem já não se convive há muito tempo é evidência de um cérebro ativo (cite o nome de, pelo menos, cinco amigos de sua infância); ativar a memória espacial pretérita ajuda a manter a plasticidade do cérebro (pensar na disposição de móveis e utensílios em seu quarto de infância); conseguir cantar ou recitar a letra de músicas que marcaram sua juventude (fazê-lo sem erros indica que sua memória musical funciona normalmente); procurar relembrar brincadeiras, hobbies e outras práticas (como palavras cruzadas) que lhe davam satisfação lúdica – essas lembranças ativam neurotransmissores de prazer, que melhoram as conexões neuronais; e se recordar, com detalhes, daquele passeio ou encontro especial (pequenos momentos da vida cotidiana) que indica agilidade mental.