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14/11/2025
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Enem 2025: Maior número de adesão de idosos nas inscrições

Por Marcelly Cavalcanti, do Ongrace

Cresce número de idosos inscritos no Enem 2025, o maior percentual dos últimos três anos – imagem: Nexa / Stock Adobe

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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 registrou um fenômeno inédito: o número de candidatos com 60 anos ou mais quase triplicou em três anos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 17.192 idosos confirmaram a inscrição nesta edição — um salto de 191% em relação a 2022, quando pouco menos de seis mil pessoas dessa faixa etária participaram da prova.

Embora representem apenas 0,35% do total de mais de 4,8 milhões de inscritos, os números revelam uma mudança significativa no perfil do público do Enem, tradicionalmente composto por jovens recém-formados no Ensino Médio. O crescimento expressivo de candidatos da terceira idade reflete uma combinação de fatores sociais, educacionais e culturais que vêm impulsionando o envelhecimento ativo e a valorização da aprendizagem ao longo da vida.

A maior parte dos candidatos idosos concluiu o Ensino Médio há décadas e retorna ao exame por razões que vão além da busca por uma vaga na universidade. Muitos encaram o Enem como um desafio pessoal e uma forma de manter a mente ativa; outros, como um símbolo de superação. Há quem tenha deixado os estudos na juventude para trabalhar e, agora, busque concluir etapas pendentes da formação escolar. Desde 2025, o exame voltou a permitir o uso das notas para certificação de conclusão do Ensino Médio, o que também contribuiu para a expansão das inscrições entre pessoas mais velhas.

Perfil dos novos participantes

O levantamento do Inep mostra que as mulheres são maioria entre os idosos inscritos — cerca de 54% do total. A predominância feminina, observada também em outras faixas etárias, ganha um significado especial entre os mais velhos, já que as mulheres são mais propensas a retomar os estudos e a participar de atividades educacionais na terceira idade.

Em termos regionais, Sudeste e Sul concentram a maior parte das inscrições. O Rio de Janeiro lidera o ranking, com 3.087 inscritos, seguido de São Paulo, com 2.367, e Minas Gerais, com 1.997. A distribuição regional evidencia o impacto das políticas locais de educação de jovens e adultos, além da oferta de cursos preparatórios acessíveis — presenciais ou on-line — que facilitam o retorno dos idosos à vida acadêmica.

A decisão de enfrentar o Enem após os 60 anos nem sempre está ligada a objetivos profissionais. Em muitos casos, o exame simboliza autonomia, autoestima e pertencimento social. Especialistas em educação destacam que o envelhecimento populacional do Brasil — hoje com mais de 33 milhões de pessoas acima de 60 anos, segundo o IBGE — vem acompanhado de uma crescente procura por educação continuada. O avanço da tecnologia, o maior acesso à informação e as políticas públicas voltadas ao envelhecimento ativo criaram um cenário favorável para que pessoas idosas se mantenham intelectualmente engajadas.

Além disso, há um aspecto simbólico: criado em 1998, o Enem se tornou um marco da inclusão educacional. A presença de idosos na prova mostra que o sistema está mais plural e democrático, acolhendo diferentes trajetórias e histórias de vida.

Desafios e oportunidades

Com o tema da redação Perspectivas acerca do Envelhecimento na Sociedade Brasileira, o exame deste ano deu ainda mais visibilidade à pauta da inclusão. Em várias cidades do país, igrejas cristãs têm incentivado e disponibilizado espaços comunitários para que os idosos retomem os estudos. As aulas, em geral conduzidas por voluntário, buscam resgatar a vida educacional de quem, na juventude, precisou interromper a formação para trabalhar. Neusa dos Santos, 73 anos, vê a iniciativa como uma nova chance. “Mesmo tendo estudado no passado, a forma como consigo fazer agora, sendo aposentada, é muito mais leve. Hoje, tenho tempo para me dedicar e até relembrar coisas que há anos não me recordava. Tenho mais paciência e vontade de fazer acontecer”, declara Neusa, que pretende realizar o exame no próximo ano.

Apesar do avanço, especialistas alertam que ainda existem barreiras estruturais e pedagógicas para a plena inclusão desse público. A logística de aplicação das provas, o tempo de duração e o formato digital ainda representam desafios para muitos idosos. Questões de mobilidade, visão e cansaço físico também precisam ser considerados na preparação das salas e na capacitação dos fiscais.

Outro desafio é garantir que o aumento das inscrições se converta em acesso real à Educação Superior. Muitas universidades públicas e privadas ainda não possuem políticas específicas para acolher estudantes da terceira idade, seja em termos de acessibilidade, seja de suporte emocional e pedagógico.

Por outro lado, o crescimento desse grupo traz oportunidades de renovação para o ambiente acadêmico. A convivência entre gerações nas universidades estimula o diálogo e a troca de experiências, enriquecendo o processo de aprendizagem. Há instituições que já criaram projetos de integração intergeracional, em que alunos mais jovens auxiliam colegas idosos com ferramentas digitais, enquanto aprendem com a sabedoria e a vivência dos mais experientes.

A elevada participação de idosos no Enem 2025 é mais do que um dado estatístico: é um sinal de transformação cultural. Mostra que o desejo de aprender permanece vivo, mesmo após décadas longe dos bancos escolares. Representa também um convite para que o país repense suas políticas educacionais, incluindo a terceira idade como parte ativa da construção do conhecimento. O movimento observado neste Enem indica que, para muitos brasileiros, aprender é um ato de liberdade — e que nunca é tarde demais para recomeçar.

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