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Vírus como os da gripe (influenza) e da covid-19 provocam muito mais que tosse, coriza e espirros: acarretam também problemas cardiovasculares e outras complicações. Porém, um novo estudo revela uma face mais perigosa desses vírus. O processo inflamatório pode acionar células iniciais do câncer de mama e estimular o processo metastático, pelo qual a lesão se estende a outros órgãos e tecidos. A lesão das glândulas mamárias é uma das modalidades mais prevalentes da doença no Brasil, com aproximadamente 74 mil novos casos diagnosticados em 2024.
A pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, foi publicada na revista inglesa Nature, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo. A chamada “dormência clínica” — etapa em que as células tumorais permanecem “adormecidas” e podem continuar assintomáticas no organismo por muitos anos — seria, então, interrompida pelos agentes patogênicos trazidos pelos vírus. Os pesquisadores usaram camundongos fêmeas com câncer de mama e observaram que, nos animais infectados pela influenza e pelo SARS-CoV-2 (o coronavírus), houve aumento expressivo de células tumorais nos pulmões da ordem de cem a até mil vezes.
O trabalho demonstra que a reativação celular ocorreu em razão da inflamação pulmonar, devido à resposta imunológica natural do organismo. Segundo os pesquisadores, esse fenômeno se deve ao aumento oportunista da substância interleucina-6 (IL-6), apontada como responsável pela ativação das células cancerígenas. Além dos testes com os roedores, foram realizadas avaliações com pessoas. Os resultados mostraram que quem tinha histórico de câncer e contraiu covid-19 apresentava o dobro de chance de morrer pela enfermidade, especialmente nos primeiros meses após a infecção. O risco do surgimento de metástases no pulmão chegou a aumentar 45%.
O estudo é considerado robusto por incluir experimentos em laboratório com dados populacionais de qualidade, coletados durante a pandemia da covid-19, desencadeada em 2020. Embora ainda não haja evidências de que a imunização contra a gripe e a covid-19 tenha efeitos sobre a inativação de células tumorais, a sondagem ajuda a compreender o comportamento das células tumorais dormentes e reforça a importância das vacinas contra doenças infectocontagiosas, tanto para prevenir quanto para impedir os graves efeitos colaterais em pacientes oncológicos.