Águas não tão infindas
27/06/2025
Águas não tão infindas
27/06/2025

Por Carlos Fernandes, do Ongrace

Moradias precárias e falta de saneamento pioram condições de vida das crianças no Brasil – Imagem: Régis Cardoso / Gerado com IA / Adobe Stock

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No Brasil, a desigualdade vem do berço. É o que mostra o livro-pesquisa Desigualdades — A primeira infância e os tribunais de contas, lançado recentemente pelo Instituto Rui Barbosa, em parceria com o Tribunal de Contas de Goiás. A obra revela que as condições de vida na infância estão diretamente ligadas ao local de nascimento e ao grupo étnico da criança: negros e indígenas, das regiões Norte e Nordeste do país, estão quase sempre em grande desvantagem.

A mortalidade infantil, por exemplo, varia muito conforme a região. Em Santa Catarina, registram-se, em média, dez óbitos antes de se completar um ano de idade. Já no Amapá, a taxa chega a 18 mortes no mesmo indicador. Quando se trata de mortes de crianças antes de completar cinco anos, o abismo é ainda maior: são 11,5 óbitos no estado catarinense contra 23,5 em Roraima. Isso significa dizer que quase 60% da mortalidade infantil entre crianças pretas, pardas ou indígenas ocorre por causas evitáveis. Entre aquelas que sobrevivem, a desigualdade racial permanece: 64,3% dos bebês com baixo peso são pretos, pardos ou indígenas.

É sabido que taxas elevadas de mortalidade infantil estão diretamente associadas à baixa qualidade na prestação de serviços de saúde, que englobam desde o atendimento pré-natal até cuidados básicos de puericultura, e a causas estruturais, como moradias precárias, ausência de saneamento e insegurança alimentar. A desigualdade não acontece por acaso, mas é um objetivo intencional. É resultado de uma política econômica que tem por base o egoísmo, a competição como método e a infelicidade como propósito, aponta, em artigo incluído no livro, Edson José Ferrari, presidente do Comitê Técnico da Primeira Infância do Instituto Rui Barbosa.

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