Por Carlos Fernandes, do Ongrace

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O interesse pelo estudo teológico cresce cada vez mais no Brasil. Nos últimos anos, mais de cem cursos de Teologia, sendo 43 ligados a instituições evangélicas, obtiveram reconhecimento do Ministério da Educação (MEC), o que tem aumentado a expansão e o aprofundamento sobre o tema de maneira acadêmica. Por sua vez, diversas igrejas têm oferecido escolas e cursos de Teologia, fato que não só tem elevado o saber mais detalhado acerca da Palavra de Deus, como também tem contribuído para a formação de obreiros mais qualificados.

Segundo o último Censo, os evangélicos já são quase 27% da população brasileira e, à medida que esse segmento religioso cresce em expressão numérica e social, aumenta a demanda pelo aprendizado bíblico formal. “Acredito que essa busca se dê porque as pessoas perceberam a importância de conhecer melhor a Deus e a Sua Palavra”, observa Acyr de Gerome Jr., pastor e professor da Faculdade Vitória em Cristo, em São Paulo. “Em algumas igrejas, também se exige que o obreiro esteja melhor capacitado. Tudo isso, além da propagação de informações sobre fé na internet, aguça a curiosidade e indica a necessidade de estudar mais.”

Com sólida formação teológica e atuação profissional — Gerome é doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), concluiu o pós-doutorado na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e é secretário de Cultura e Formação Bíblica da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) —, o estudioso chama a atenção para a valorização desse saber. “Com raras exceções, já não existe mais aquela ideia antiga de que a Teologia ‘esfria’ o crente. Há boa Teologia hoje e boas escolas teológicas que instigam o conhecimento bíblico sem perder a piedade na vida, a comunhão com a igreja e o compromisso de servir.”

Lembrando que todo cristão é chamado para fazer discípulos por meio do ensino e deve estar preparado para responder os que pedirem a razão de sua esperança, conforme 1 Pedro 3.15, Gerome destaca outra questão muito considerada por quem se interessa por essa área: a ideia de chamado e vocação. “O vocacionado sabe quando Deus o chama. Não há opção. E um curso de Teologia pode ajudar bastante nesse processo”, finaliza.

Esse foi o percurso do consultor de Produtos de Dados Carlos Augusto da Silva, 38 anos, do Rio de Janeiro. Estudante do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, sua motivação para iniciar os estudos acadêmicos foi buscar aprofundamento teológico e entendimento das inúmeras vertentes que existem no meio evangélico. “Creio que a discussão sadia desses temas pode ajudar a engajar pessoas na busca por um entendimento mais profundo da Palavra, de modo a encontrar o que, de fato, importa: a Verdade apontada pelo apóstolo Paulo em Colossenses 1.27: Cristo em vós, esperança da glória.”

Carlos Augusto é membro da Igreja Missionária Evangélica Maranata e já percebia desde a juventude que tinha um chamado ministerial. No entanto, concluiu que precisava olhar o tema de modo mais racional. “Cerca de 15 anos depois, iniciei o seminário acreditando que estava somente em busca de um conhecimento mais teológico das Sagradas Escrituras.” Porém, algo mais profundo aconteceu. “Recentemente, fui cobrado pelo Senhor sobre um posicionamento com relação àquele chamado feito lá atrás. Hoje, entendo que Deus me chamou para esse ministério e que preciso me preparar com isso em mente.”

Para muitos evangélicos, é preciso buscar além do aprendizado adquirido nas igrejas pela ministração regular da Palavra ou por meio da Escola Bíblica Dominical. “Há mais interesse em compreender o contexto histórico-cultural em que os livros bíblicos foram escritos para que, desse modo, seja possível entender a intenção dos escritores inspirados”, salienta o Pr. Rafael Mariano dos Santos, reitor da Academia da Graça de Deus (Agrade), escola teológica vinculada à Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD). Com, aproximadamente, 3,5 mil alunos inscritos em seus cursos, a instituição oferece formação ampla, contemplando diversas disciplinas. “Para atender a essa demanda, reformulamos nossos cursos, conferindo-lhes um aspecto mais acadêmico, mas sem deixar de lado a simplicidade na maneira de transmitir o conhecimento.”

Rafael Santos concorda que tem havido maior interesse pelo estudo da Teologia, mas ressalta ainda estar longe do que considera ideal. “Nos tempos atuais, alguns pensam que podem pregar sem nenhum preparo. Não podemos generalizar, mas há muita bobagem sendo ensinada travestida de pregação.” Por isso, acentua o educador, é fundamental aliar o chamado a uma capacitação. “Charles H. Spurgeon, o príncipe dos pregadores, já dizia que o vocacionado sente uma espécie de fogo nos ossos e não se satisfaz com nada além da pregação.” Desse modo, Santos defende que o chamado desperta sede por conhecimento. “A melhor forma de saber se um candidato está realmente disposto é observar se há nele prazer na Lei de Deus, conforme preceitua o texto de Romanos 7.22”, conclui.