
Presença cristã marcante
14/07/2025Por Carlos Fernandes, do Ongrace

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Uma pesquisa realizada pelo Instituto DataSenado revelou que 60% dos brasileiros são favoráveis à legalização dos chamados jogos de azar. Essa modalidade de apostas incluiu a reabertura dos cassinos no país, além dos bingos, das corridas de cavalos, do popular jogo do bicho, entre outros. A amostragem ouviu cerca de cinco mil pessoas com 16 anos de idade ou mais, e a margem de acerto estatístico é de 95%.
Entre as justificativas apresentadas pelos entrevistados, estão o aumento da arrecadação tributária — 58% deles veem benefícios para as contas públicas, a partir dos impostos gerados — e a oferta de empregos na cadeia produtiva, motivo alegado por 44% das pessoas para apoiar a medida. Por outro lado, a metade do universo pesquisado argumenta que a simples proibição do jogo tem pouco efeito, já que as atividades tendem a ser realizadas clandestinamente.
No momento, tramita no Senado o Projeto de Lei nº 2.234/2022, de autoria do deputado federal Renato Vianna (MDB-SC). Esta revoga a proibição do jogo no Brasil, medida que remonta à década de 1940. O relator da matéria, senador Irajá (PSD-TO), é favorável ao projeto que autoriza, por exemplo, a instalação de cassinos em polos turísticos ou em complexos integrados de lazer.
A advogada Edna Zilli, presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE), entidade que está na linha de frente contra a medida, não poupa críticas à proposta de lei. “Há forte interesse econômico por parte do Estado na preservação desse mercado, regulamentado e tributado”, aponta ela, lembrando que a instituição a qual preside vem mobilizando diversos setores da sociedade, especialmente a Igreja, e atua ao lado da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) para manter o jogo proibido. “A ANAJURE tem se pronunciado sobre a questão repetidas vezes e continuará fazendo isso conforme a questão se desenvolve no Legislativo e no debate público brasileiro.”

Para a jurista, há um alinhamento do poder público com a iniciativa privada em favor da legalização dessa e de outras modalidades de apostas no país, como é o caso das bets –casas de apostas operadas por meio de aplicativos que utilizam maciças campanhas publicitárias com a chancela de personalidades, artistas, atletas e ex-atletas. De acordo com o estudo O Panorama das Bets, realizado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), essas plataformas movimentaram, apenas em 2024, cerca de 240 bilhões de reais. Só de janeiro a maio de 2025, o governo já arrecadou 3 bilhões de reais com a taxa de 18% sobre a receita bruta dos jogos, cobrada em cima da diferença entre o que se paga de prêmio e o que é arrecadado com as apostas.
Segundo Zilli, além do endividamento e da eventual ruína dos lares, esse quadro desenfreado de apostas significou uma perda de 100 bilhões de reais, que deixaram de circular na economia convencional na forma de comércio e serviços. “Cabe a nós reiterarmos que há formas infinitamente preferíveis de melhorar a arrecadação do Estado e preservar a liberdade da iniciativa privada, sem devastar a saúde e o bem-estar das famílias brasileiras”, pondera.