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31/10/2024Ferramentas e estratégias ajudam a melhorar a produtividade de indivíduos com déficit de atenção
Por Alessandra Nunes e Marcia Pinheiro, do Ongrace
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O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que se manifesta na infância e, frequentemente, acompanha o indivíduo por toda a sua vida, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção. A condição afeta milhões de pessoas em todo o mundo e é caracterizada pela desatenção, hiperatividade e impulsividade. O TDAH pode impactar significativamente o cotidiano não só de crianças, como também de adultos, que nem sequer imaginam ter esse distúrbio.
“É crucial promover informações baseadas em evidências científicas, eliminando mitos e preconceitos. Muitas vezes, o TDAH é incompreendido, levando a julgamentos errôneos sobre as capacidades e os comportamentos das pessoas que convivem com ele”, comenta a psicóloga Ana Caroline Machado Domingues. “O TDAH não é uma questão de falta de esforço ou indisciplina, ou até mesmo preguiça, mas, sim, um transtorno neurobiológico que requer apoio especializado. Portanto, fomentar um diálogo aberto contribui para reduzir o estigma e promover aceitação e compreensão.”
As manifestações dessa disfunção podem variar conforme a idade: nas crianças, a hiperatividade é mais visível, enquanto, nos adultos, os sintomas de desatenção e dificuldade de organização podem ser mais presentes, conforme explica a profissional. “Na infância, os principais desafios incluem dificuldades escolares, problemas de relacionamento com colegas e professores, e uma tendência a comportamentos impulsivos. A criança pode ter dificuldade em seguir regras, manter a concentração em atividades prolongadas ou até ser erroneamente interpretada como ‘desobediente’ ou ‘preguiçosa’. Na adolescência, os desafios podem aumentar devido às exigências nos campos dos estudos e das interações sociais”, diz.
“Na vida adulta, os desafios podem envolver a gestão do tempo, a organização, cumprimento de prazos e a manutenção de relacionamentos pessoais e profissionais. Além disso, os adultos podem sentir frustração ou baixa autoestima se o transtorno não foi diagnosticado e tratado adequadamente durante a infância”, completa.
O uso de telas e o déficit de atenção
A maioria dos estudos mais recentes indica uma associação entre maior tempo de tela e aumento dos sintomas de TDAH. Pesquisas apontam que fatores como a qualidade do sono e o nível de atividade física também mediam a relação entre o tempo de tela e os sintomas de TDAH, conforme explica a psicóloga Regiane Cardozo.
“Por causa dos eletrônicos e das telas de computador ou celular, as pessoas estão com muito déficit de atenção. Somado a isso, a falta de sono, de vitamina B12 e de alimentação adequada, entre outros fatores, acabam afetando a memória de alguma forma”, alerta Regiane.
Desde a infância, o analista de sistemas Tiago Oliveira, de 28 anos, esquecia-se dos materiais de estudo em casa ou no colégio, perdia prazos para a entrega de trabalhos, deixava os brinquedos na rua ou na casa de colegas e só voltava para buscá-los quando sua mãe o repreendia. “Eu era tido como desatento, mas meus pais achavam que era ‘distração de criança’. Ao me tornar adulto, continuei esquecendo-me, só que, agora, de coisas importantes, como a chave do lado de fora da porta e dos compromissos inadiáveis, o que começou a me prejudicar. Isso me fez procurar ajuda psicológica, e, aos 25 anos, descobri que tenho transtorno do déficit de atenção”, conta.
Estar atento aos sinais do TDAH logo na fase inicial é fundamental para garantir uma qualidade de vida, a partir da busca por ajuda profissional.
Primeiros sinais
“Os sinais mais comuns do TDAH incluem desatenção, hiperatividade e impulsividade. Uma criança com TDAH pode parecer estar ‘no mundo da lua’, ter dificuldade em seguir instruções, ser excessivamente inquieta e ter problemas em esperar sua vez. No entanto, esses comportamentos podem ser confundidos com o desenvolvimento normal, já que muitas crianças são naturalmente ativas e têm dificuldade de concentração em certas idades. O que diferencia o TDAH é a persistência e a intensidade desses sintomas, que causam prejuízos significativos na vida escolar e social”, informa Ana Caroline.
Ela orienta aos pais, cuidadores e educadores que estejam atentos à frequência desses comportamentos e observem se eles afetam a aprendizagem ou as interações sociais da criança.
Cardozo alerta que o acompanhamento psicológico pode até mesmo salvar vidas. “Para quem não busca tratamento, a desatenção do TDAH pode colocar a pessoa ou alguém de seu convívio em risco de morte. Por outro lado, quando há acompanhamento clínico, o indivíduo leva uma vida normal, porque, mesmo consciente de sua condição, consegue policiar-se mais”, expõe a profissional.
Diagnóstico
A psicóloga Bruna Azevedo destaca que o psicólogo clínico pode fornecer hipótese diagnóstica do transtorno, mas o laudo é fornecido por outros especialistas. “O diagnóstico não é baseado em características isoladas, pois ele é feito em cima de uma longa avaliação realizada por profissionais especializados, como neurologista, psicopedagogo, neuropsicólogo ou psiquiatras, que fazem testes e realizam exames específicos”, ressalta Bruna.
No acompanhamento de uma pessoa com TDAH, abordagens terapêuticas têm se mostrado eficazes na ajuda com esse transtorno. “A terapia desempenha um papel essencial na gestão do TDAH, especialmente em combinação com intervenções medicamentosas. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes, auxiliando a pessoa a desenvolver estratégias de gestão de tempo, organização e controle da impulsividade”, esclarece Ana Caroline.
“A TCC contribui para reestruturar pensamentos negativos que podem surgir da frustração em lidar com o TDAH. Outras abordagens incluem terapia comportamental para crianças, que envolve o trabalho conjunto entre terapeutas, pais e educadores para promover comportamentos desejáveis”, continua. “No contexto adulto, a terapia focada em TDAH pode colaborar no desenvolvimento de habilidades práticas para o dia a dia. A psicoeducação também é importante por fornecer ao indivíduo e à família um entendimento claro sobre o transtorno”, completa.
Tipos de déficit de atenção
Regiane Cardozo frisa que, muitas vezes, as siglas do transtorno se confundem, porque há três tipos dessa condição neuropsiquiátrica. “Existe o desatento (transtorno do déficit de atenção – TDA), o hiperativo impulsivo (transtorno de hiperatividade – TDH) e o combinado (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). O primeiro tem dificuldade de concentração; o segundo não consegue parar quieto – é a famosa pessoa ‘elétrica’; já o terceiro mistura os dois tipos anteriores”, difere.
A psicóloga acrescenta que é um erro as pessoas acreditarem que o distúrbio afete a capacidade intelectual. “É falsa a crença de que quem tem TDAH não aprende, pois não se trata de um transtorno intelectual. Pelo contrário, quem tem déficit de atenção desenvolve habilidades bem específicas que, se a pessoa souber aproveitar, será muito bem-sucedida”, finaliza Cardozo, citando criatividade, dinamismo, proatividade e alto nível de inteligência.
Para Ana Caroline, algumas práticas ou políticas poderiam ser implementadas para promover um ambiente mais inclusivo.
“A sociedade deve apoiar melhor as pessoas com TDAH por meio de práticas que promovam a inclusão, empatia e o respeito, tanto no ambiente escolar quanto no local de trabalho. No setor educacional, adaptar metodologias de ensino e oferecer recursos, como mais tempo para realizar tarefas, salas de aula com menos distrações e apoio individualizado são essenciais”, cita. “Para os adultos, é fundamental que o local de trabalho seja flexível, permitindo que os indivíduos com TDAH possam usar ferramentas e estratégias que melhorem sua produtividade, como organização digital e divisão de tarefas.
A psicóloga considera imprescindíveis as políticas de saúde pública que garantam o acesso da população ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado. “Além disso, é primordial promover a formação de educadores e demais profissionais para que compreendam as necessidades das pessoas com TDAH, criando um ambiente que reconheça o seu potencial e ofereça suporte e qualidade de vida em vez de julgamento e exclusão”, encerra.