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Com interações sociais e atividades públicas, convívio na Igreja colabora para a superação da timidez

Por Carlos Fernandes, do Ongrace

Geysse Guerra (no centro), em atividade do ministério infantil: “A timidez não me domina mais” Imagem: Arquivo pessoal

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Quem nunca passou pela seguinte situação que atire a primeira pedra: em uma reunião de trabalho, um evento social ou mesmo no culto, você é chamado a colaborar com uma opinião, manifestar suas ideias ou dar um testemunho. Imediatamente, a voz trava, a vermelhidão sobe ao rosto, e as mãos começam a suar. A timidez é um traço de personalidade que pode se manifestar em situações diversas. É claro que, de modo geral, a inibição inicial tende a se dissipar e ser superada com o tempo. Contudo, em muitos casos, torna-se um problema. Em uma sociedade como a de hoje, em que há cobranças constantes por desempenho profissional e desenvoltura pessoal, ser tímido em excesso pode levar à perda de oportunidades ou, em casos mais severos, a transtornos emocionais e ao isolamento.

De acordo com a Psicologia, esse tipo de comportamento, por vezes, está ligado à maneira como o indivíduo foi criado. Sendo assim, ambientes mais repressivos tendem a fazer com que a criança seja mais introspectiva, e esse comportamento se refletirá na vida adulta. A timidez pode ser também um reflexo do medo de ser julgado negativamente, reprovado ou humilhado. E se, evidentemente, a psicoterapia e as técnicas de desenvolvimento de fala em público são importantes para se vencer a timidez, estar inserido em um contexto comunitário como o da Igreja é igualmente favorável. Afinal, a ambiência eclesiástica, com suas múltiplas atividades em grupo, é um “laboratório” e tanto para se superar o acanhamento. Afinal, qual é o crente que já não foi solicitado a fazer uma oração em voz alta ou a contar uma bênção recebida, por exemplo?

Depois de perder oportunidades devido à timidez excessiva, Tânia Sostizzo agora exerce o ministério pastoral com desenvoltura Imagem: Arquivo pessoal

Esse processo é conhecido pela analista fiscal Geysse Guerra, de Sorocaba (SP). Sua atual desenvoltura nos trabalhos do ministério infantil nem de longe lembra a moça tímida que chegou à Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) há cerca de 20 anos. “A timidez não tem me dominado mais. Claro que a exposição ao público sempre me dá um ‘frio na barriga’, mas isso não me limita a falar ou me expor em alguma situação, até mesmo no meu trabalho”, garante. Geysse acredita que o comportamento mais tímido se deve a uma característica pessoal, mas que o pertencimento à comunidade de fé tem sido fundamental no seu desenvolvimento nesse aspecto. “Com certeza, a participação nas atividades da Igreja me ajudaram e me ajudam até hoje.”

Geysse é o tipo de pessoa que não trava diante de uma oportunidade na obra de Deus. Ela tem atuado não só com as crianças, mas também em retiros de jovens, grupos de intercessão e organização de eventos — atribuições que demandam muita interação e liderança, posições que, geralmente, apresentam dificuldades para quem é tímido. “Participei de muitos treinamentos de capacitação para o trabalho voluntário, como aulas de fantoches, musicalização, coreografias, atuação em teatro e ministração de aulas. Todas essas atividades nos tiram da zona de conforto e da timidez”, afirma. Um momento que ela considera marcante para essa superação foi durante a pandemia de covid-19. “Saímos dos limites do espaço físico da Igreja e começamos a fazer lives ao vivo para as crianças, todos os sábados. Foi um desafio enorme, porque tudo ia para o canal do Facebook da nossa Igreja local, alcançando muita gente, até mesmo aqueles que não frequentavam a casa de Deus”, lembra-se.

“No dia em que o pastor me chamou para fazer uma oração final no culto, olhei para a parede, e não para o povo de Deus”, conta, bem-humorada, a Pra. Tânia Sostizzo, de 59 anos, da Igreja da Graça em Morro Grande, região de Viamão, na Grande Porto Alegre (RS). De acordo com ela, sua timidez se desenvolveu pela maneira como foi criada. “Aprendi que não deveria me intrometer em conversa de pai e mãe e, com isso, fui cada vez mais me fechando. Chegava a sentir pânico de falar em público nas apresentações da escola e mesmo na fase adulta. Convivi 38 anos com isso”, diz a pastora. Devido a esse problema, Tânia chegou a abandonar um curso técnico de Enfermagem. “Nas aulas teóricas, eu ficava isolada. Mas, quando começou a fase do treinamento prático, não consegui conviver com as pessoas”, recorda-se.

Assim, quando ela conheceu Jesus, há 24 anos, trouxe a timidez consigo. “Eu me escondia no final do culto para não conversar com os irmãos. Ia limpar o banheiro feminino e ficava lá, só saía quando via que não tinha mais ninguém no salão.” Hoje, ela é capaz de contar essas experiências de maneira descontraída, como quem conhece o agir do Senhor. “Com certeza, o envolvimento e a interação que tive na congregação me ajudaram a superar toda essa timidez”, ressalta a pastora. Com 19 anos de ministério, Tânia não tem qualquer barreira nas atividades pastorais, como a ministração da Palavra, o aconselhamento ou a visitação às ovelhas, pelo contrário: “Hoje, posso ajudar muitas pessoas a também vencerem a timidez e a se tornarem vasos usados pelo Senhor”.

Preparação para a vida”

Quem chega ao templo da IIGD em Salvador (BA) é envolvido em uma atmosfera de acolhimento e simpatia que deixa o visitante à vontade na casa do Senhor. Uma das integrantes da equipe de recepção da Igreja é a cabeleireira Silvania de Santana Sousa dos Santos. Enquanto segura uma placa com os dizeres “Estamos felizes com sua presença”, ela conta que foi somente nesse ministério que está conseguindo deixar a timidez de lado: “Hoje, eu me sinto melhor. Porém, perdi várias oportunidades de desenvolvimento profissional por causa da timidez e por ficar muito nervosa ao falar em público”. Em situações mais extremas, Silvania chegava a tremer e sentir outros desconfortos físicos.

A cabeleireira Silvania faz parte do ministério de recepção na Igreja da Graça em Salvador (BA): “Esse trabalho me faz muito feliz” Imagem: Arquivo pessoal

“Eu não gostava de me expor. Sempre era discreta por acreditar que não seria capaz de exercer alguma função ou habilidade que me fossem requeridas”, continua. Porém, ao longo de 18 anos como membro da IIGD, esses problemas com a autoestima foram sendo vencidos. Cada nova atividade desenvolvida era uma vitória pessoal. “Esse trabalho de cuidar de pessoas, aconselhar, acolher e evangelizar me faz muito feliz”, alegra-se. Silvania entende que os eventos e as reuniões a ajudam bastante, mas que a verdadeira transformação vem do Senhor. “Aqui, tenho podido conhecer realmente o Senhor e entender o chamado que nos foi dado por Jesus.”

“Hoje, mais do que nunca, existe uma grande necessidade de dominarmos a comunicação, principalmente nas mídias sociais. Sabermos nos expressar verbalmente é um dos requisitos principais”, atesta a fonoaudióloga Queila Holandino Mojon, do Rio de Janeiro. Filha de pastor, ela conhece de perto os benefícios que a igreja pode proporcionar, os quais vão além do aspecto espiritual. “Como fonoaudióloga e professora de crianças na escola dominical, e também dando aulas de música e atuando com canto coral infantil, afirmo que o convívio no ambiente eclesiástico contribui de modo positivo para o desenvolvimento emocional das crianças e na maneira como se expressarão futuramente.”

Para a fonoaudióloga Queila Mojon, o convívio no ambiente eclesiástico contribui de maneira positiva para o desenvolvimento emocional Imagem: Arquivo pessoal

Ela usa a própria trajetória como exemplo do que diz: “Sempre fui extremamente tímida, mas tenho certeza de que o fato de estar inserida, desde muito pequena, neste meio contribuiu muito para minha desinibição”. Queila conta que esse tipo de vivência leva as crianças, desde cedo, a lidar com apresentações em público, ajudando assim no processo de vencer a timidez. “Isso ocorre pelo fato de estarem em grupo, com amiguinhos, um apoiando o outro e de maneira lúdica”, ensina. A fonoaudióloga ainda menciona benefícios na estimulação da percepção espacial, atenção e memória auditiva, auxiliando no desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. “Tudo isso contribui para a formação de um adulto equilibrado em suas emoções.”

Para Hellen, estar na Igreja tem feito toda diferença em seu comportamento: “É uma preparação para a vida” Imagem: Arquivo pessoal

Agora bem integrada ao trabalho nas redes sociais e mídias digitais do templo-sede da Igreja da Graça em Natal (RN), a assistente administrativa Hellen Inácio é uma jovem comunicativa. Porém, nem sempre foi assim. “A timidez atrapalhava muito o meu diálogo com outras pessoas. Conversas normais do dia a dia eram impossíveis. Era mais forte do que eu”, confessa. Apesar de os pais dela sempre lhe passarem confiança e estímulo, Hellen considera que aquela era uma característica dela. “Dentro de sala de aula, por exemplo, eu conseguia me desenvolver bastante; mas, quando saía, a história era diferente.” Como a Igreja sempre foi uma segunda casa para ela, a jovem de 19 anos encontrou, na casa do Senhor, um ambiente propício para se desenvolver. “A Igreja me ajudou muito. Costumo dizer que ela foi uma preparação para a vida. Muitas das coisas que sei aprendi aqui, como trabalhar em equipe, liderar, organizar e, principalmente, falar em público”, finaliza.

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